Linux, o sistema operacional com consciência socioeconômica
eliseu
Eliseu
Ontem uma das minhas irmãs me ligou falando mais ou menos isso: "Eliseu, acho que meu PC foi pras cucuias, tu pode dar uma olhada?". Perguntei o que aconteceu e a resposta foi tipo "ah, primeiro o sistema mostrou tela azul, depois reiniciou do nada, aí deu um monte de mensagens de erro (...)" - OK, entendi, problemas com o Windows, mas a conversa continuou - "(...) aí hoje ele deu um bipe e não ligou mais. Será que tem salvação?".
Na mesma hora imaginei: "bah, se deu um bipe e não ligou mais, acho que a placa-mãe ou algum outro componente já era". Mas falei para ela trazer a máquina aqui para casa a fim de eu ver o que estaria ao meu alcance, no que concordou.
Então, ela veio aqui com o dito cujo. Gente do céu... Gabinete branco mini-torre; teclado PS/2 ABNT grande e largo, daqueles antigões; mouse PS/2 com bolinha (!!!), unidade de disquete de 3,5" (eita!...) e por aí vai. O único item "mais novo" era um monitor LCD AOC com resolução 1440x900. Mas as coisas não param por aí: não lembro de cor a configuração desse PC, mas sei que o processador dele era Intel Celeron D - isso dá uma ideia da idade desse coitado.
Recolhi a máquina, pus em cima da mesa da cozinha, montei tudo e tentei ligar. Tudo o que aconteceu foi eu ouvir um "beeeeeeeeeeeeeeeeeeeep". Pensei comigo: "xiii..."... Mas como não sou de me entregar tão facilmente, resolvi abrir o gabinete para ver a situação. Uma onomatopeia resumiu tudo: ATCHIM!!! Pois é. Havia poeira suficiente para encher um balde de praia. E não era só isso: também tinha muita terra (não sei como...), além de uma pena de passarinho e até mosquitos mortos espalhados lá dentro. O que fazer? Limpeza, é claro.
Primeiro usei um aspirador portátil para tirar o excesso de sujeira de dentro do gabinete. Depois usei um pincel para limpar cada um dos componentes, do pente de memória ao processador. Recoloquei tudo nos seus devidos lugares e, ainda com o gabinete aberto, tentei ligar a máquina de novo. Dessa vez tudo ocorreu normalmente. Pelo menos não havia nada errado com o hardware, fora toda a sujeira.
Aí deixei o sistema iniciar. Lá estava: um Windows XP instalado há mais de doze anos, sem qualquer atualização, nem limpeza e desfragmentação de disco, nada, nada. Estava tudo demasiadamente pesado e cheio de pop-ups mostrando erros. Então fui ver que o sistema estava cheio de programas duvidosos, muitos vindos desses Baixaki da vida - tinha desde baixador de vídeos do YouTube até joguinho de match-3, tudo ocupando um espaço precioso e comprometendo a segurança. Fora os "n" malwares e um AVG desatualizado que haviam lá. Tipo, não tinha como dar certo isso aí, né... Acho que ela já recebeu a máquina assim e ficou por isso mesmo.
Quando minha irmã trouxe a máquina aqui, me disse que queria salvar todos os seus arquivos e que "não queria sair do Windows". Quanto aos arquivos, tudo bem, mas era óbvio que quanto a "ficar no Windows" era impossível, pois o suporte do Windows XP já acabou faz tempo e qualquer versão posterior não funcionaria no tal PC, sendo ele muito antigo. Qual a saída? Linux, naturalmente.
Mas antes de proceder com a instalação, fui fazer backup de todos os arquivos, conforme solicitado. Levei um susto quando vi a pasta "Meus documentos": havia um total de mais de 30GB de arquivos, incluindo imagens, vídeos, áudio, documentos, planilhas, programas, dentre outros. Tudo misturado! Me deu a entender que ela foi simplesmente jogando tudo ali, sem mais nem menos, e que esqueceu de apagar o que não fosse mais necessário.
Para fazer o backup dos arquivos precisei usar meus três pen drives, sendo um de 16GB e outros dois de 8GB cada. Antes disso formatei todos eles como NTFS no meu PC, que roda Linux Mint 17.2, usando o GParted. Devido à extrema lentidão do sistema naquele estado, o backup levou praticamente o dia inteiro para ser concluído.
Feito o backup, fui testar algumas distribuições Linux 32-bit (porque num PC com um velho Celeron D não teria como ser diferente...). Foquei nos pacotes .deb: Debian, Ubuntu, Linux Mint, Zorin, Peppermint, Puppy, dentre outras. Essa máquina não permitia boot por pen drive, então não restou outra coisa a não ser usar CD-R ou DVD-R para os testes.
Para acessar a Internet com esse PC, precisei usar um dispositivo de wifi que estava guardado numa gaveta. Isso já foi critério eliminatório: o Debian caiu fora porque não reconheceu esse dispositivo de cara; eu precisaria primeiro fazer conexão cabeada e, no meio da instalação, adicionar o driver do wifi (sendo que não uso mais conexão cabeada há longa data e nem mesmo tenho mais cabos Ethernet aqui). Todas as demais continuaram no páreo.
Fui fazendo outros testes e, ao final, sobraram três distribuições: Linux Mint 17.2 MATE, Linux Mint 17.2 XFCE e Lubuntu 14.04, todas LTS e 32-bit. Num primeiro momento, escolhi o Mint XFCE, mas depois optei pelo Lubuntu. Por quê? Porque o dispositivo de vídeo onboard da tal máquina (VIA S3 UniChrome ou algo assim) respondeu melhor ao ambiente LXDE. Então, fiz a instalação "oficial" do Lubuntu 14.04 LTS, já que a primeira foi só um teste.
Pois bem... Esse pobre coitado velhinho PC ganhou vida nova. Antes ele estava se arrastando, capenga, todo errado, e ameaçava não funcionar mais, mas agora ficou tinindo :-D
Sendo que essa minha irmã é professora estadual e atualmente não tem condições financeiras para nada além do mínimo necessário (água, luz, telefone, alimentação e vestuário), consegui livrá-la de ter que comprar outro PC quando não poderia. Ao menos por um bom tempo.
Linux é, sempre foi e sempre será um sistema operacional com uma forte consciência socioeconômica. E ontem tive a prova disso.
Na mesma hora imaginei: "bah, se deu um bipe e não ligou mais, acho que a placa-mãe ou algum outro componente já era". Mas falei para ela trazer a máquina aqui para casa a fim de eu ver o que estaria ao meu alcance, no que concordou.
Então, ela veio aqui com o dito cujo. Gente do céu... Gabinete branco mini-torre; teclado PS/2 ABNT grande e largo, daqueles antigões; mouse PS/2 com bolinha (!!!), unidade de disquete de 3,5" (eita!...) e por aí vai. O único item "mais novo" era um monitor LCD AOC com resolução 1440x900. Mas as coisas não param por aí: não lembro de cor a configuração desse PC, mas sei que o processador dele era Intel Celeron D - isso dá uma ideia da idade desse coitado.
Recolhi a máquina, pus em cima da mesa da cozinha, montei tudo e tentei ligar. Tudo o que aconteceu foi eu ouvir um "beeeeeeeeeeeeeeeeeeeep". Pensei comigo: "xiii..."... Mas como não sou de me entregar tão facilmente, resolvi abrir o gabinete para ver a situação. Uma onomatopeia resumiu tudo: ATCHIM!!! Pois é. Havia poeira suficiente para encher um balde de praia. E não era só isso: também tinha muita terra (não sei como...), além de uma pena de passarinho e até mosquitos mortos espalhados lá dentro. O que fazer? Limpeza, é claro.
Primeiro usei um aspirador portátil para tirar o excesso de sujeira de dentro do gabinete. Depois usei um pincel para limpar cada um dos componentes, do pente de memória ao processador. Recoloquei tudo nos seus devidos lugares e, ainda com o gabinete aberto, tentei ligar a máquina de novo. Dessa vez tudo ocorreu normalmente. Pelo menos não havia nada errado com o hardware, fora toda a sujeira.
Aí deixei o sistema iniciar. Lá estava: um Windows XP instalado há mais de doze anos, sem qualquer atualização, nem limpeza e desfragmentação de disco, nada, nada. Estava tudo demasiadamente pesado e cheio de pop-ups mostrando erros. Então fui ver que o sistema estava cheio de programas duvidosos, muitos vindos desses Baixaki da vida - tinha desde baixador de vídeos do YouTube até joguinho de match-3, tudo ocupando um espaço precioso e comprometendo a segurança. Fora os "n" malwares e um AVG desatualizado que haviam lá. Tipo, não tinha como dar certo isso aí, né... Acho que ela já recebeu a máquina assim e ficou por isso mesmo.
Quando minha irmã trouxe a máquina aqui, me disse que queria salvar todos os seus arquivos e que "não queria sair do Windows". Quanto aos arquivos, tudo bem, mas era óbvio que quanto a "ficar no Windows" era impossível, pois o suporte do Windows XP já acabou faz tempo e qualquer versão posterior não funcionaria no tal PC, sendo ele muito antigo. Qual a saída? Linux, naturalmente.
Mas antes de proceder com a instalação, fui fazer backup de todos os arquivos, conforme solicitado. Levei um susto quando vi a pasta "Meus documentos": havia um total de mais de 30GB de arquivos, incluindo imagens, vídeos, áudio, documentos, planilhas, programas, dentre outros. Tudo misturado! Me deu a entender que ela foi simplesmente jogando tudo ali, sem mais nem menos, e que esqueceu de apagar o que não fosse mais necessário.
Para fazer o backup dos arquivos precisei usar meus três pen drives, sendo um de 16GB e outros dois de 8GB cada. Antes disso formatei todos eles como NTFS no meu PC, que roda Linux Mint 17.2, usando o GParted. Devido à extrema lentidão do sistema naquele estado, o backup levou praticamente o dia inteiro para ser concluído.
Feito o backup, fui testar algumas distribuições Linux 32-bit (porque num PC com um velho Celeron D não teria como ser diferente...). Foquei nos pacotes .deb: Debian, Ubuntu, Linux Mint, Zorin, Peppermint, Puppy, dentre outras. Essa máquina não permitia boot por pen drive, então não restou outra coisa a não ser usar CD-R ou DVD-R para os testes.
Para acessar a Internet com esse PC, precisei usar um dispositivo de wifi que estava guardado numa gaveta. Isso já foi critério eliminatório: o Debian caiu fora porque não reconheceu esse dispositivo de cara; eu precisaria primeiro fazer conexão cabeada e, no meio da instalação, adicionar o driver do wifi (sendo que não uso mais conexão cabeada há longa data e nem mesmo tenho mais cabos Ethernet aqui). Todas as demais continuaram no páreo.
Fui fazendo outros testes e, ao final, sobraram três distribuições: Linux Mint 17.2 MATE, Linux Mint 17.2 XFCE e Lubuntu 14.04, todas LTS e 32-bit. Num primeiro momento, escolhi o Mint XFCE, mas depois optei pelo Lubuntu. Por quê? Porque o dispositivo de vídeo onboard da tal máquina (VIA S3 UniChrome ou algo assim) respondeu melhor ao ambiente LXDE. Então, fiz a instalação "oficial" do Lubuntu 14.04 LTS, já que a primeira foi só um teste.
Pois bem... Esse pobre coitado velhinho PC ganhou vida nova. Antes ele estava se arrastando, capenga, todo errado, e ameaçava não funcionar mais, mas agora ficou tinindo :-D
Sendo que essa minha irmã é professora estadual e atualmente não tem condições financeiras para nada além do mínimo necessário (água, luz, telefone, alimentação e vestuário), consegui livrá-la de ter que comprar outro PC quando não poderia. Ao menos por um bom tempo.
Linux é, sempre foi e sempre será um sistema operacional com uma forte consciência socioeconômica. E ontem tive a prova disso.
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Comentários
É isso ai, além de consciência socioeconômica tbm temos a ambiental, evitando o descarte desnecessário de eletrônicos, que geralmente vão parar no lixo.